segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Living

No Museu de Louisiana, uma grande exposição mostra a convergência entre a antropologia, arquitetura e ciências sociais, explorando o significado do "sentir-se em casa”.



Afinal o que é uma "casa"? E o que significa "sentir-se em casa”? É uma sensação que só sentimos quando estamos no nosso espaço privado? Podemos nos sentir em casa mesmo quando estivermos em uma comunidade ou qualquer outro local, mesmo sendo temporário?

Estas e outras indagações formam  o tema da exposição intitulada Living, e comissionada por Kjeld Kjeldsen Mette Marie com Kallehauge.

Living ocupa o museu inteiro e abrange um grande ciclo com três exposições, desenroladas ao longo dos últimos cinco anos e unidas sob o título de Fronteiras da arquitetura. A amostra se dedicada à arquitetura experimental, inovadora e à instalações artísticas.




A primrira seção tem como enfoque o sonho, concebida como uma expressão de necessidade básica humana.
Os arquitetos,ali,  tendem a começar o seu pensamento com a forma primária ou arquetípica de crescer e entrelaçam conceitos mais complexos de vida e habitação.
A formulação de variantes na unidade de habitação é uma espécie de laboratório para novas formas de conceber e construir o mundo.

A amostra explora a maneira pela qual nós criamos uma sensação de estar em casa, que significa muito mais do que a estrutura física em que vivemos.




Se "estar em casa" não é um lugar, mas um empate e um estado de ser, quando e como estamos "em casa"?
Como  a casa reflete a nossa identidade?
Como podemos criar a sensação de "home" por meio não só de práticas diárias, mas também  de tradições e determinados tipos de arquitetura?
Como vamos levar a nossa "própria pátria" conosco quando nos movemos ou migramos?

Enfrentar essas questões hoje tão vivas, significa falar de globalização.
Em uma sociedade caracterizada pela diversidade cultural, a demanda por variedade na arquitetura cresce exponencialmente.

Ao meu ver, para arquitetos, isso significa colocar em jogo formas de trabalho que exigem não só  a força do design, mas também o conhecimento de diferentes tradições.
 Não há um estilo para todos!!! Não há uma linguagem universal!



E isso se evidencia na exposição, que se refere a estilos de vida individuais, tocando  no tema da arquitetura de fusão, que pode contribuir para tornar os diferentes segmentos da população a sentirem-se em casa em suas sociedades.

Mais ou menos como uma arquitetura espontânea, a idéia de que cada um de nós tende a construir limites dentro dos quais podemos tomar refúgio e proteger a nós mesmos.

Ótimo tema a se explorar, um tanto quanto inspirador!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Eterno retorno




Este post  não existe. Você não lê. Este post, ao contrário, é tudo que você quer que seja, você está escrevendo (embora  não saiba).
Tudo aquilo que gostaria que não tivesse acontecido nessa semana, ou o que gostaria. A canção que fez seu dia mais alegre, uma nova melodia , um novo conjunto ou uma fotografia. O que você não se atreveu a dizer naquele momento particular em que você deveria ter falado. Um bilhete ao primeiro destino para sair por aí. Uma rota através da cidade que vc mais gosta, aventuras em uma cidade que nunca foi. Um sorriso que não  vai voltar a ter. Um abraço sincero. Um prazer.
 É a teoria do eterno retorno de Kant, uma reflexão, uma progressão de idéias, uma folha em branco.

A doutrina do eterno retorno visa introduzir no mundo a eternidade.
Assim, em termos de contraposição, dirige-se à filosofia de Platão, a Nietzsche, a Kant e ao positivismo enquanto posições que sustentam a
oposição:  mundo verdade/mundo aparente desde a instituição da idéia.

Na perspectiva de Nietzsche é a imagem de uma ampulheta que exprime a circularidade de seu eterno retorno.
Cada ciclo se repete inumeráveis vezes no menor e no maior detalhe. A ampulheta, enquanto mundo, contém a eternidade e, por isso, ao girar, traz as mesmas combinações de forças em cada grande ano do vir-a-ser.

Aproveite cada minuto, hoje são as melhores lembranças!





quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"Antiarte" - Duchamp





      
       A arte conceptual é o único movimento artístico levado a cabo por um só homem: Marcel Duchamp (1887-1969).
       A sua obra produziu uma espécie de revolução coperniciana no mundo da arte. Depois dos seus "ready-made" a arte nunca mais foi a mesma.
Apesar de ser o mais influente artista do século XX, lançando a tradição avant-garde na arte, a sua obra provoca ainda assim acesas disputas e é uma verdadeira dor de cabeça para os estetas.


Obras como a famosa Fonte (1917/1964), que não é mais do que um “vulgaríssimo” urinol, são ainda hoje palco de discussão e incompreensão não só por parte do grande público, mas também por alguns críticos e historiadores da arte.
   Filósofos como George Dickie dedicaram uma especial atenção aos "ready-made" de Duchamp, concebendo uma teoria sobre a arte que acomodasse tais objetos e outros do gênero — os chamados "objetos ansiosos," aqueles que nos mantêm na incerteza de os classificar como arte.



Talvez tenha sido a procura de inspiração fora dos círculos artísticos normais que possibilitou o nascimento de uma forma de arte completamente diferente. Se Duchamp tivesse sido aceite e acarinhado pelos seus colegas pintores quando procurou aceitação, talvez a revolução artística do século XX nunca tivesse tido lugar.

Ao meu ver, aos olhos de uma crítica esnobe, experiências transgressivas tipo as de Duchamp, Brossa, Warhol, , tem seu efeito estético condicionado somente ao gênio de quem os pratica. Pois só mesmo uma crítica esnobe, não raro, pretende que a obra artística exposta vá muito além daquele impacto passageiro –
Daí sim, o rancor que faz essas peças de impasse ainda serem tidas como responsáveis pelo esvaziamento da arte ou compreendidas como arte vazia. Imaginem?


Utilizando esse ponto... Por que então ainda realizar algo “com intenção estética” ou ética?
Evidentemente o argumento de que não se faz arte apenas com intenção demoliria, a princípio, tal colocação.
Mas sigo: qual o lugar para os gestos que não pretendem ser fiéis a uma ideia conformada de arte, um modelo estético definido, uma significação?

Algumas das precipitadas conclusões da crítica da “arte vazia”, revelam um desejo de que a arte em geral tome de vez um destino único ou, pior, nos antecipe os detalhes de seu percurso. Arte obvia então?

Seguindo meu ponto...É um grande erro atribuir certa crise na produção (e percepção) da arte contemporânea,  considerando-a, por exemplo, como algo definitivamente irrelevante ou insustentável.
Essas atitudes além de apreenderem a expressão artística, atentam justamente contra suas próprias ilusões e idealizações.
 Repito: e que arte teria esse direito histórico á hegemonia?
E que horror seria!

Compreendidas ou não, subentendidas ou não, ambas as operações (gesto e intenção provocadora), abertos ao fluxo das intrigas, afetos e estranhamento, ganham em ambiguidade e insolência, sujeitas, ao longo do tempo, tanto às revisões e desvios da crítica, quanto aos devotos à irreverência.

Porém, se não há sequer consenso nem unanimidade nas referências da realidade e suas representações delirantes, a não ser na impostura sutil dos símbolos e seus discursos, de que mundo se fala? que arte se denuncia como vazia? que modelo é esse de vazio?

Duchamp, na diversidade de formas que a arte assume na sua obra, defende a arte da facilidade de qualquer definição.

Dado o contexto, não quero deixar de referir que a própria natureza da arquitetura, motivada pela estética mas também pela
utilidade, pode não ser alheia à ideia duchampiana de fazer obras que não sejam "de arte", no seu afastamento estratégico de visões puramente estetizantes.

É esta impureza, enquanto forma de arte, que eu falo, no afastamento de qualquer funcionalidade, que torna pertinente reflexões a um campo mais vasto , lugar de motivações e simultaneamente, de consequências da prática artística.


"A arte é a única forma de atividade por meio da qual o homem se manifesta como verdadeiro indivíduo." Marcel Duchamp


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"Visões" Urbanas

                                          Viena / Austria 2008

Hoje mais do que um simples post sobre determinado assunto que chama minha atenção, vou fazer um relato.
Relato esse sobre uma das paixões que tenho, a fotografia.

Descobri a fotografia, sem querer, sem entender e simplesmente “vivendo” cada momento, uma frase meio clichê e um pouco subjetiva, mas É exatamente isso.
O gosto começou quando peguei as malas pela primeira vez e entrei meio que mundo à fora.
Mais tarde descobri que a câmera para mim, era apenas um pretexto para conhecer o mundo e suas culturas, pois era ali, na rua, que a  lente me aproximava mais da vida cotidiana por onde andava.

                                          Rishikeshi/ India 2009

Confesso que sempre gostei de pessoas - particularmente, de observá-las, sou do tipo  que senta em um banco de praça, ou de um shopping, e pode ficar o dia todo apenas observando.

 A fotografia de rua, desse modo, começou a fazer parte da minha vida, onde captava basicamente o que há de mais comum: os pequenos momentos, os pormenores do cotidiano, aqueles que ninguém dá muita confiança, nem se lembra, muito menos se importa.

Captar esses triviais momentos, que parecem tão comuns no dia-a-dia, mas tão raros nas percepções, se tornou uma paixão espontaneamente.

                                                     Barcelona/Espanha 2011

O porquê ? Fácil. Pois ali tudo o que se tem é o que se vê!!
É excitante justamente porque é algo que não se pode controlar, como o movimento, os ângulos ou a luz, talvez seja o método em que mais se precisa da velha e boa intuição, pois  simplesmente se  fotográfa porque as coisas estão acontecendo naquele instante...
E a escolha do instante de fotografar é muito mais um sentimento do que uma escolha.
A essência da fotografia de rua é captar os momentos, e os momentos acontecem em um piscar de olhos, às vezes literalmente!
Ali, se eternizam sutilezas que durariam apenas um segundo,
os ditos pequenos momentos....e  não há nada maior do que eles, não é?


                                         Barcelona/ Espanha2009


                                          Barcelona / Espanha 2009

                                ttp://www.flickr.com/photos/renatasz/