segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Denso, tenso e principalmente real



                          "Ficamos mais autênticos quanto mais nos parecemos com o que sonhamos que  somos” - Tudo sobre minha mãe.


Continuando na linha Cinema. Hoje acordei enxergando saturado, inspirada nas cores do sol e do mar, junto aos guarda-sóis vermelhos da praia de São Conrado. Instantaneamente a paisagem foi culpada e me propôs falar do agressivo e apaixonado Almodóvar.

Os filmes desse cineasta espanhol são um convite a um mundo passional, lírico e extravagante.
Engajado num universo cheio de cores vibrantes e personagens densos, o diretor nos leva ao êxtase ao retratar com estilo mulheres comuns e seus conflitos, identidades sexuais e devassidão com um brilhantismo colorido e repleto de emoções.
Almodóvar desnuda a alma feminina, por uma ótica masculina singular e nos coloca em “cheque” diante da vida. Sem exageros, apenas elogiando a autenticidade relevante e o verdadeiro sentimento em mim causado!


 De certa forma, seus filmes me parecem trazer uma espécie de nostalgia quanto às relações familiares de amor, afeto, crescimento e amizade. Seus personagens cheios de inquietações e paixões fazem parte de todas as histórias emocionantes sensíveis e profundas. Sem dúvida nenhuma essa tão intensa dor e paixão, que também em igual teor, agonia e sofreguidão, muito conscientemente, causam em nossos sentidos!


Assistir um filme de Almodóvar, ao meu ver, é viajar nessa cores, nos seus vermelhos, verde e amarelos fortíssimos, que vão  dos trajes dos personagens, aos cenários e objetos, todos num estilo próprio do seu universo exagerado.

 É a dor e “salvação” plena da alma, do corpo e do amor.
 A maneira em que ele ressalva esse sentimento, me agrada e impressiona, é um amor que foge ao padrão da sociedade e recebe diversas facetas, as quais não se enquadram no modelo romanticamente idealizado.


No olhar de Almodóvar, e possivelmente no nosso também, esse sentimento, traz problemas, satiriza, dói e alegra. O amor é visto de uma forma marginal. È denso, tenso e principalmente real. É quase palpável!


Nessas suas buscas de "verdades", que as vezes nos tranqüilizam e muitas vezes nos incomodam. A autenticidade, como já diria ele, nos ajuda a chegar mais perto do que sonhamos que somos!!

Apenas saliento que assistam e admirem a arte deste cineasta valoroso!!!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

São tempos difíceis para os sonhadores


                       “São tempos difíceis para os sonhadores”
                                                Amelie Poulain

Em tempo de Festival de cinema no Rio, fui quase obrigada a direcionar meus pensamentos para a telona.

Dentro deste tema, mas não dentro do guia do evento, coloco hoje em pauta um filme otimista, poético e diferente.
Filme este que me faz declarar aqui minha real admiração por essa obra, a qual se tornou há tempos, minha favorita.
Qualquer exagero em elogios será dotado de sentimentos reais de um preenchimento excessivo da alma! Por isso, podem ser criteriosos caso achem necessário! 

Pouquíssimos filmes me provocaram tamanha felicidade como o francês “O fabuloso destino de Amelie Poulain”. Como já mencionei, é meu filme predileto, o que também me torna suspeita em classificar meus comentários. Mas decididamente, arrisco em dizer que nunca vi a natureza humana tratada com tanta delicadeza.

Aclamado por alguns críticos, super atacado por outros, o filme tem uma mensagem atemporal sobre altruísmo e bondade.

 Difícil não flutuar ao som da ‘valsa de Amélie’, difícil assistir e não perceber as tonalidades opostas na escala de suas cores vermelho e verde, que formam um visual espetacular somado à inspiração das telas de Juarez Machado.

Uma história tão profunda e filosófica.
Com uma beleza fotográfica e saturada, entre uma atmosfera meio surreal de beleza, inocência, delicadeza, benevolência e indulgência da doce e apaixonante Amelie.

Presenciar o fantástico olhar do diretor Jeunet, nos leva a desacostumar em ver o mundo em grandes proporções, globalizado, conectado, onde perdemos a capacidade de entender a diferença entre um grito e um sussurro, onde não percebemos quem está ao nosso lado, onde o movimento é frenético e a digestão é tão lenta.

Jeunet nos permite renovar a crença no humano. De acreditar nas paixões pela vida, pela mudança, pelo desconhecido.
Abre nossos olhos para o existencialismo, para a escolha fundamental e singela do individuo.
Uma “fábula” encantadora e contrastante em épocas onde tudo é efêmero e já nasce quase ultrapassado.

Sempre que vejo Amelie, fico tomada por uma imensa vontade! Vontade de qualquer coisa prazerosa e pura!  De pegar uma bicicleta e sair por aí para ver estrelas. Receber um telefonema em um telefone público, seguir setas azuis e correr atrás dos sonhos.....

Os tempos são difíceis para os sonhadores. Mas ninguém pode tirar isso de nós.

Aproveite seu tempo!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Tudo que é reto mente




Tudo o que é reto mente. Toda verdade é sinuosa. O próprio tempo é um círculo.” – F. Nietzsche


Realmente fiquei um considerável período sem postar absolutamente nada. Sem desculpas, nem exatos porquês a fase era de fato outra, merecendo focar 100% em diferentes questões e faltando disposição para reabilitar o blog. Como diria uma amiga. “Sim, elas cansam”, e eu, nesse aspecto cansei.

Mesmo sendo um grande clichê o fato  da vida e nós sermos feitos de ciclos e fases, volto a todo vapor, do outro "lado do círculo", nessa espécie de desabafo autoral .

   Siim!! Todo mundo muda. Tudo muda! – já diziam os gregos, "nada permanece o mesmo! Não se pode tomar banho duas vezes no mesmo rio!". O mundo dá mesmo muitas voltas. Numa delas, tudo volta novo – tudo mudado. 

Estou falando sobre mudança, troca, transgressão, como queiram chamar ou compreender.

O meio em que vivemos, as pessoas que conhecemos e toda a trajetória que nos guia do presente ao futuro, nos fazem ser diferentes do que éramos a pouco ou há muito tempo. Esse processo de variações ao longo da vida é absolutamente comum e inevitável.

Chegou a minha vez, mais uma vez! E entre repetições do mesmo tema, consigo perceber que quando eu mudo de história, troco o livro ou pinto a pagina....
A leveza aparece! Plena e acompanhada de  uma espécie de melancolia proposital. Como cita Anatole France.

“ Todas as mudanças, mesmo aquelas que ansiamos, tem sua melancolia. O que deixamos para trás é uma parte de nós mesmos. Precisamos morrer em uma vida, antes de entrarmos em outra...”

À essa “nova” vida atribui-se um emaranhado de coleções desbotadas de acertos e possíveis desacertos....
Mas o Desacertar em todo caso também é arte na coreografia da vida.

Para  o êxito, muitas vezes é preciso fragmentar para criar um mosaico, com toda a beleza e mistério, sedutor de silêncios e inquietações, que nele caibam...

É tempo de mudança!!